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RESIDÊNCIA 2013

 

1) Quais perguntas e dúvidas sua prática tem levantado nesse momento?

Como lidar com as relações de consumo atuais, a alienação, a superficialidade das relações humanas, a produção em série de modelos de beleza únicos, a ânsia pela juventude, bem estar e alegria inesgotáveis, os reality shows, a globo, a televisão em geral presente e ligada na maioria das casas, o googlemaps, as câmeras de segurança, o monitoramento onipresente, a invasão generalizada dos espaços individuais, o facebook, o capitalismo cognitivo, a atrofia do pensamento crítico e da autonomia, a ideologia da produção ininterrupta, a raridade dos corpos vivos e a invasão do photoshop e cirurgias plásticas, a síndrome do eu-primeiro e do desculpa-qualquer-coisa, como não enriquecer a indústria farmacêutica, como viver em um mundo mais artístico, como não deixar a dança fugir do meu corpo, como pensar em processos artísticos e de educação interessantes e abertos considerando tudo o que está aí em cima, como destruir/reagir frente o gasto e pisado? Como não me endurecer e deixar vir o fresco, o broto?

 

2)O que você tem feito? Como tem acontecido sua rotina de trabalho?

Busco sobreviver em termos de prazer, alimentações, dinheiro, criar frestas pra ser pega de surpresa como ser humano/criadora/educadora e entrelaçar as práticas em que me envolvo umas com as outras. Me divido nas funções de educadora (20h/sem no Sesc com práticas corporais em turmas bastante heterogêneas em idades e histórias de vida. Em breve começo também com crianças); computador (escrita de projetos/e-mails/facebook); coordenação/produção e curadoria do CAUSA em discussões infinitas e maravilhosas com minha grande companheira Ju, e também com ela produção e coordenação artística do projeto Histórias da Dança; participo da Comissão de Dança de Juiz de Fora;  sou gestora e administradora do Diversão & Arte Espaço Cultural, onde também moro com meu marido e meu filho (funções fulltime); papos com amigos nas folgas; residência artística do CAUSA (8h/sem começando hoje!).

 

3) Como você imagina gerar um ambiente de trabalho compartilhado nos dois dias que sucedem a apresentação de sua proposição cênica?

1. Um grupo de pessoas começam separadas numa mesma distância umas das outras formando uma roda, todos de costas para o centro.

2. Uma delas joga um objeto (que já estará em sua mão) para cima para que caia no meio da roda.

3. Assim que for ouvido o som de sua queda no chão no meio da roda todos tentam, o mais rápido possível, deitar com a barriga em cima dele.

4. As outras pessoas irão observar quem conseguiu por 3 segundos e em seguida todos tentarão ao mesmo tempo tomar o seu lugar.

5. Repetir o ciclo por 10 minutos.

6. O grupo observa o último que ficou sobre o objeto e se afasta para direções diversas mantendo seu olhar nele.

(instruções do Jogo da barriga, primeira prática proposta na residência 2013)

 

4) A crítica tem feito parte das suas rotinas de trabalho? Se sim, como isso acontece? Quais as ferramentas ou modos você tem experimentado?

Sim, tenho experimentado modos de desenvolvimento de crítica artística os quais tiveram início mais sistematicamente na residência de criação que participei e produzi Operação 2012, proposta pela Ju França. A crítica acontecia por meio de perguntas que eram feitas e respondidas semanalmente durante os processos de criação dos participantes, lidando com o que era visto, sentido e pensado a partir do contato com cada proposta. Pretendo seguir e aprofundar esses modos ao longo do CAUSA trocando com os colegas de residência, com os artistas que virão apresentar seus trabalhos, com os artistas que virão compartilhar seus processos de criação no Na Reta, e com o público, que será convidado a praticar a crítica nos mesmos moldes que os artistas.

 

5) Você considera que as lógicas mercadológicas nas quais estamos inseridos operam nas configurações de seu trabalho? De que maneira?

Sem dúvida. Vivo numa sociedade com lógicas mercadológicas muito claras e mesmo não concordando com elas me posiciono todo o tempo as levando em consideração. Me vejo a todo momento sendo guiada por dúvidas como as que seguem: Como conseguir dinheiro e tempo para criar, levantando questões que possam chegar onde tiverem que chegar sem a preocupação se depois disso conseguiria novamente um fomento, como ser artista/produtor/elaborador/ captador de projeto e não ter uma crise criativa nem uma estafa, como conseguir “se vender” sem “se vender”, como estar no mercado da dança contemporânea e não se tornar um reprodutor do mercado da dança contemporânea ou um RP de si mesmo (se mostrar  socialmente sempre presente e interessante)...

 

6) Quais as maiores dificuldades que você identifica hoje no exercício da sua profissão? Você tem praticado estratégias para lidar com elas? Se sim, quais?

Bem, as principais dificuldades citei na resposta anterior e ainda não tenho resposta para nenhuma delas. Mas minhas principais estratégias são: tentar sempre, buscar companheiros (parceiros de trabalho, amigos, alunos, família, minha cachorra, desconhecidos) de realização e de trocas e confrontar maneiras e soluções, compartilhar informações num esforço de fazer minha parte para gerar ambientes mais colaborativos, praticar o bom humor, fazer yoga, cuidar e ser cuidada, considerar as horas de folga sagradas (ainda estou meio fraca nisso...), me colocar pessoalmente em todos os ambientes que frequento.

 

7) Escreva aqui, tudo junto e misturado, referências direta ou indiretamente ligadas a sua proposição cênica (inspirações, influências, interferências pontuais, etc...).

Meu filho Antônio, minha avó Berenice, os participantes das práticas semanais que ofereço, Panóptico, Admirável Mundo Novo, Marina Abramóvic, O Mestre Ignorante, Contos de Fada, Real, Virtual, Fantasia, Laban, Bichos, Plantas, Nietzsch, Violências, Amores, calendário Maya, Era de Aquários, pessoas, éticas, estéticas e eróticas que me tirem do lugar e me abram caminhos diferentes dos seguros e conhecidos.

 

Letícia Nabuco

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