




Permanência micro/macro
1ªexperiência:
Me aguasalhei e escolhi a posição. Pensei em estar de pé mas achei difícil, então quis estar sentada e não deitada pois era uma postura que me parecia muito fácil. Foquei um prego no chão de tábua corrida e imediatamente tentei premeditar minha experiência. Aos poucos fui me adaptando à experiência de permanência com foco naquele ponto, mas em bem pouco tempo minha musculatura das costas começou a doer. Dai consegui me readequar e permanecer na postura. Depois uma outra dor em região próxima começou. Penso q é incrível como a mente trabalha contra e tenta tirar o foco. Eu estava e estive bem incomodada durante o exercício, queria q acabasse logo e essa vontade que controlava me obrigando a permanecer até o fim, tornava-e visível em outra parte de mim. Primeiro as dores e depois uma coceira terrível no rosto, à qual cedi e cocei. Muitas estórias se passaram em minha mante e recitei escritas ao longo do processo. Delas? Já me esqueci completamente.
Em relação ao foco do olhar. Fiz vários exercícios de virar os olhos gerando vertigem no ponto preto. Foi bom me atentar as frisos da madeira e tb a uma formiga q passou.
2ªexperiência:
Subimos para perto das plantas, não saímos em virtude da chuva. Dessa vez decidi me deitar. Estava frio. Deitei-me sobre um tapete e coloquei a cabeça abaixo de uma planta, cujas partes encobriu meu rosto. Escolhi outro pequeno ponto preto. Deitada com a sensação de maior conforto, apesar do frio, pude me concentrar na visualização com mais foco. Bom que as vertigens que antes proporcionava a mim mesma com o olhar agora davam-se sozinhas, pois a sobreposição das folhagens criava camadas quase fotográficas. Eu focava no ponto e podia ver um o desfoque ao redor e logo atrás. Foi assim, visualizando fotografias diferentes que passei meu tempo de 30. É claro que no meio disso a cabeça foi longe muitas vezes e a percepção passou para segundo plano. Mas foi possível aterrar e trazer novamente para o sensório toda vez que isso aconteceu.
Penso no foco, no desfoco e no desfoque. Penso que mente é corpo e se dá no corpo. Além disso é mais concreta que o próprio corpo.Penso também na coisa do não movimento e me pergunto se isso lá existe?
Sempre me movi, mesmo que não o fizesse de modo macro. Respirei, engoli saliva, passei a língua pelos lábios...

••_mmn
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Escrita imediata após de 44min de movimento e fala ininterruptos, interruptos e alternados
(Parâmetros para escrita: o que vejo, o que sinto, o que me faz pensar e o que me faz perguntar?)
Vejo pela primeira vez com tamanha clareza, algo que instintivamente buscava. No filme três de Matrix, New fica cego, e quase instantaneamente recupera ou angaria, um outro tipo de visão. Ele vê então, por massas de calor. Enquanto expectadora, quando podia assumir, através da tela, sua visão, visualizava, massas quentes, amarelas e laranjas onde havia corpos, de ordens distintas. Ao menos assim me recordo.
Desde recentemente, quando iniciei a fazer experimentos com os olhos cerrados, instintivamente talvez, busquei algo como este tipo de visão. Algo que habilitasse-me essas zonas de calor coloridas e criasse também o desenho quente dos corpos. Nunca vi dessa forma. Nunca vi calor nenhum, nem zonas de cor quando perto de algum corpo de pessoa ou objeto. Bati inclusive muitas vezes nas paredes e nos objetos.
Hoje, algo subitamente novo, que tive consciência, quando simultaneamente, movia-me a dizia coisas de olhos fechados. Realizei esse exercício por 44 minutos sozinha no estúdio, com uma câmera ligada. Falando e movendo-me, fui percebendo que podia visualizar com tremenda clareza, minha movimentação corporal. Podia identificar todo o desenho dos movimentos no ar, através de um rastro que eles deixavam, ao mesmo tempo que aconteciam junto deles. Percebi que via sem os olhos. Que certamente era meu sexto sentido, a propriocepção atuando. Foi bem incrível, poder ver com tanta clareza sem os olhos. E não precisei visualizar como o Matrix. Descobri pela minha história com o corpo, (que hoje começa a se fazer longa, após treze anos de trabalho na dança), um tipo de visualização que torna quase dispensável meus olhos.
Descubro também, que quero dança assim. Com estes olhos internos, olhos de pele, olhos de riscos no espaço e não com os olhos da face, tão viciados e premeditadores de mim mesma.
Outra coisa interessante para terminar, é que este tipo de visão, extremamente corporal. Esses olhos por todo o território e extensão de minha estrutura física, não constroem (ou ainda não o possam) o espaço no qual estou imersa. Talvez seja esta uma inabilidade ocasional da não prática. Portanto posso ver meu movimento, sua trajetória no espaço, riscos que não sou capaz de descrever bem, mas não sou capaz de me direcionar no espaço, de conhece-lo e identifica-lo. Exemplifico: ao passo que inicio meus modos de mover, perco referências espaciais. Não sei qual minha frente de origem, não sei onde estão as pares, não identifico o posicionamento da câmera que me filma.
